VULNERABILIDADE E ESPIRITUALIDADE COMO PROPULSORES DO CRESCIMENTO

José Ricaro Mole • 7 de junho de 2025
Duas mãos abertas, com as palmas para cima, estendidas em direção à luz, sugerindo oração ou súplica.

1. Introdução

Quando se fala em gestão, as primeiras palavras que aparecem são produtividade, eficiência, eficácia, processos, liderança e muitas outras.


Diante da alta competitividade, há quase que uma fixação por produtividade e por resultados a qualquer custo. Todavia, devemos levar em consideração que a produtividade e a alta performance não podem ser confundidas com perfeição absoluta, onde não há espaço para falhas e para a realidade intrinsecamente humana, habitada por imperfeições e por fragilidades próprias de quem não é deus.


A pandemia do Coronavírus, da qual as consequências ainda estão lançadas no mundo, serviu para nos alertar sobre quão vulneráveis nós somos. Um vírus conseguiu colocar no chão nações poderosas e fechar as fronteiras da poderosa globalização.


reconhecimento da nossa vulnerabilidade e o cultivo da espiritualidade podem ser alternativas para nos ajudar a superar o ativismo, a cultivar o autoconhecimento e a autoconsciência em vista do crescimento pessoal.

2. Vulnerabilidade como expressão autêntica de quem somos e como oportunidade de crescimento

 É difícil para o Ser Humano assumir a própria condição de ser vulnerável. Somos constantemente motivados a demonstrar que somos inquebráveis. Escondemos o que temos de mais imperfeito, que é nossa essência, e vendemos uma imagem não tão real de nós mesmos. Demonstrar nossa vulnerabilidade muitas vezes é sinônimo de fracasso e de abrir espaço para sermos dominados.


Ao nascermos e saímos do aconchego e da proteção das nossas mães, já nos tornamos totalmente vulneráveis. Brené Brown, no seu livro “A coragem de ser imperfeito”, reforça a ideia de que o problema central é assimilar, acolher e aceitar nossa própria vulnerabilidade e não termos vergonha de ousarmos ser quem somos.


Vulnerabilidade não é sinônimo de fraqueza, mas, de transparência e de honestidade conosco e com os outros. A aceitação da vulnerabilidade é um ato libertador, já que nos impulsiona a sermos autênticos e nos faz economizar muita energia. Gastamos muita energia para manter as aparências vestindo as máscaras de super-heróis.


Na medida em que não acolhemos a nossa condição limitada de pessoas que são suscetíveis ao erro, vamos sendo engolidos por um perfeccionismo que Brown chama de "compulsivo, crônico e debilitante" que gerará cada vez mais ansiedade e depressão por não conseguirmos atingir as expectativas que nos são impostas.


Parece contraditório, mas, acolher a nossa própria vulnerabilidade nos faz mais fortes, já que nos possibilita a abertura ao crescimento e ao desenvolvimento pessoal. Fechamos toda a perspectiva de crescimento em qualquer área da vida quando nos enxergamos como pessoas muito fortes, indestrutíveis e perfeitas.


Brown reforça ainda que “se quisermos ser livres do perfeccionismo, precisamos fazer a longa travessia do ‘o que as pessoas vão pensar?’ para o ‘Eu sou o bastante’”.


O “Eu sou o bastante” não indica individualismo e “eu me basto”, significa que o único responsável por assumir minha vulnerabilidade sou eu. No entanto, a vulnerabilidade reconhecida como intrínseca do ser humano, por si só, reflete a necessidade do encontro com o outro, que na sua própria vulnerabilidade, apoia e enriquece a minha frágil existência.


Reconhecer nossa natureza imperfeita nos faz ir ao encontro do outro imperfeito que nos complementa na nossa imperfeição e, ao mesmo tempo, se apoia em nós e nos garante sustento na nossa vulnerável condição.



Uma pergunta surge: como mergulhar no mais íntimo do nosso ser para acolher e aceitar nossas vulnerabilidades se quase não temos tempo nem para respirar num tempo em que a produtividade e a alta performance são quase que impostas?

Xícara de cerâmica azul e branca, reparada com kintsugi dourado, sobre fundo branco.

3. A espiritualidade como fonte do autoconhecimento e da aceitação da própria vulnerabilidade

Pessoa transparente meditando com chakras brilhantes.

Não é novidade o tema da visão sistêmica das organizações. Nem mesmo é novidade a visão sistêmica do ser humano. Na sua existência, a pessoa não é fragmentada. Ao contrário, é um todo interligado sistematicamente de modo que sua vida inteira é interdependente de tudo o que existe em sua volta. Tudo se volta para o pensamento complexo que abrange o todo da pessoa, convergindo no mundo de possibilidades que a envolvem na sua existência.


As organizações, por sua vez, devem ser compreendidas de maneira holística, onde cada engrenagem toca para frente e impulsiona a missão assumida. Não podemos deixar de lado o fato de que as organizações não funcionam por si mesmas, mas, são movidas por pessoas, que por sua vez, movem criativamente novas dinâmicas de produção e de serviços. Por isso, cada vez mais, o tema da espiritualidade entra na pauta da gestão de pessoas.


A espiritualidade diz respeito ao que há de mais íntimo no Ser Humano, isto é, a sua interioridade. É onde está seu tesouro mais precioso. É o encontro com Deus e a experiência do transcendente na própria existência. É o cultivo da intimidade através do silêncio, da oração, da meditação e da interiorização. Do ponto de vista da neurociência, é no lobo frontal que a espiritualidade se situa biologicamente. É o que os cientistas chamam de “ponto Deus” ou de “mente mística” (Cf. Zohar, 2012), onde acontece a vibração dos neurônios localizados nessa região do cérebro.


Muitas vezes, na rotina das organizações, apaga-se um incêndio por minuto e o tempo parece ser muito menor do que o necessário. Todavia, quanto mais tempo tivermos, mais tarefas vamos assumir e, de novo, menos tempo teremos.


O conceito de espiritualidade, por sua vez, não pode ser confundido com o que se chama de Mindfulness, conceito muito difundido no mundo dos negócios, que pode ser traduzido como atenção plena. Ambos se complementam, mas, não são sinônimos. Segundo Puntel e Adam (2021), “pode-se encontrar na espiritualidade humana um espaço de resiliência, de enfrentamento, de autoconhecimento e de sentido; e no Mindfulness, uma significativa redução da ansiedade, do estresse e uma maior clareza para o entendimento de suas emoções, pensamento e comportamentos”.


O cultivo da espiritualidade fortalece a introspecção necessária para o autoconhecimento. Ele só é possível num longo e, às vezes, doloroso mergulho nas profundezas da própria existência. O autoconhecimento exige a capacidade de silenciar o coração dos barulhos exteriores para escutar toda a vida que pulsa dentro de nós.


Na medida em que fazemos o exercício de silenciar o coração para o cultivo pessoal, vamos nos abrindo para quem somos de verdade e vai surgindo a autoconsciência da nossa vulnerabilidade, o que nos possibilitará a autenticidade necessária para o verdadeiro crescimento.


4. Considerações Finais

A aceitação da nossa condição de vulneráveis nos liberta do peso de sermos perfeitos e nos possibilita a arte de nos transcender de nós mesmos e irmos muito mais além do que imaginamos.


O bem-estar, o autocuidado e a espiritualidade, na dinâmica do cultivo pessoal, são fundamentais, inclusive, para melhorar a produtividade e fomentar processos criativos. Não são, portanto, empecilhos para quem deseja crescer profissionalmente. Sobrecarga e excesso de trabalho não são sinônimos de dedicação. Por mais trabalho que tenhamos, é preciso dedicar tempo para nós mesmos, de modo que nos respeitemos o suficiente para sermos respeitados.


Já pensou em começar a cultivar sua espiritualidade?

 

Referências


Brown, Brené. A arte de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.


PUNTEL, Clairton; ADAM, Júlio Cézar. Mindfulness e Espiritualidade como estratégica de enfrentamento em situações de crise. Revista Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 61, n. 1, p. 239-255, jan./jun. 2021.


ZOHAR, Danah; MARSHALL, Ian. QS: Inteligência Espiritual. São Paulo: Viva Livros, 2016.


Cabeças humanas e de robôs com cérebro, conectadas por circuitos; símbolos de nuvem, rede global e chip.
Por José Ricardo Mole 7 de setembro de 2025
1. Entre o real e o virtual a realidade é uma só Cada vez mais, o mundo em que vivemos torna-se complexo . A Revolução Tecnológica, a Indústria 4.0, a Internet das Coisas e a Inteligência Artificial transformaram nosso modo de pensar e de fazer. Da liquidez ao metaverso, a sociedade tornou-se demasiadamente incompreensível , já que é quase impossível assimilá-la devido à rapidez das suas mudanças. As ideias de "realidade real" e "realidade virtual", do filósofo francês Pierre Lévy, tornaram-se uma só realidade, tendo em vista que a virtualização do ambiente de trabalho , impulsionada pela pandemia, mas, não só por ela, veio para ficar e, daqui para frente, tornar-se-á mais comum. Na verdade, entre o real e o virtual, a realidade é tridimensional: conectada, complexa e fluida . Por isso, a maneira de pensar e de fazer as coisas também mudou. 2. Pensamento crítico como inspiração para a inovação Nesta realidade conectada, complexa e fluida, uma das competências fundamentais é o pensamento crítico. Conseguir enxergar a realidade para além da aparência é uma competência que faz toda a diferença num contexto onde o foco é ofuscado pelas inúmeras distrações e as mudanças que acontecem numa velocidade milionésima. "O pensamento crítico favorece uma leitura da realidade para além do que se vê". Além de possibilitar a capacidade de resolução de problemas complexos, o pensamento crítico favorece uma leitura da realidade para além do que se vê. A análise do contexto, do lugar de onde se fala e de onde se escuta são elementos essenciais para captar possibilidades onde a maioria dos mortais não captaria. Esta sensibilidade de captar possibilidades aumenta e muito a capacidade de inovação. A inovação começa pela atitude de análise crítica do contexto em que atuamos e que desejamos transformar. Inovar não significa somente pensar em criar coisas que ainda não existem como grande novidade. Isso também, mas, não só. Inovar também está relacionado à capacidade de criar novas maneiras de fazer as coisas que já são realizadas, superando o "sempre foi assim". Criar novos processos e fluxos que vão agilizar as entregas e melhorar os resultados é também inovar. Pensar em instrumentos e ferramentas que possibilitem maior gerenciamento de dados e de serviços é inovação. Hoje os dados estão para todos os lados. As informações estão muito mais disponíveis. Porém, para quem não sabe usar de maneira estratégica os dados que tem disponível, avaliando criticamente as informações, de nada adianta tê-las disponíveis. Para quem pensa de maneira crítica, dados são informações preciosas que se transformam em estratégias, que guiam o caminho a seguir, dando um norte para as ações em curto e médio prazos. Longo prazo, por sua vez, não existe mais, pois, o mundo já terá mudado totalmente em pouco tempo. 3. Superar o "sempre foi assim" é muito mais do que "pensar fora da caixinha" Não se inova, porém, sem pensar criticamente. O "sempre foi assim" é o maior obstáculo para a inovação e a principal característica de quem não pensa criticamente. "Na maioria das vezes, uma grande ideia surge de um problema concreto, fruto de soluções ou de ferramentas que no tempo em que foram criadas eram inovadoras". or outro lado, pensar criticamente exige estudo, foco e disciplina . Muita gente pensa que inovação é sinônimo de "pensar fora da caixinha", isto é, fugir do habitual e seguir por caminhos totalmente novos. Isso pode acontecer. Porém, na maioria das vezes, uma grande ideia surge de um problema concreto, fruto de soluções ou de ferramentas que no tempo em que foram criadas eram inovadoras. A chance de inovarmos pode estar bem na nossa frente, no nosso time, no nosso jeito de fazer essa ou aquela tarefa simples, mas, se não desenvolvermos o pensamento crítico, não enxergaremos para além das aparências e vamos continuar a fazer tudo do mesmo jeito, afinal, "sempre foi assim". ‍4. Referências DRUCKER. Peter F. I novação e Espírito Empreendedor: práticas e princípios. São Paulo: Cengage, 2022. 383p. CHRISTENSEN, Clayton M. O Dilema da Inovação. São Paulo: M. Books, 2012. 120p. LÉVY, Pierre. O que é o virtual ?. São Paulo: 34, 1996. 157 p.
Pessoa com um relógio na cabeça e braços cruzados, vestindo uma camisa jeans, em pé na frente de um fundo cinza.
Por José Ricardo Mole 4 de setembro de 2025
1. INTRODUÇÃO A pressão por “fazer mais em menos tempo” convive com calendários saturados e ambientes digitais hiperestimulantes. A evidência indica que, na prática, “acelerar” via multitarefa derruba a qualidade cognitiva do trabalho: quem alterna demais de foco filtra pior distrações, carrega mais “resíduos atencionais” e comete mais erros. Para escolas, isso se traduz em docentes e equipes administrativas que trabalham mais horas, mas não necessariamente entregam melhor, porque as condições de foco foram minadas. Do ponto de vista neurológico e comportamental, trocar de tarefa exige “reconfiguração” de metas e regras mentais, processo com custo de tempo e energia; esse custo cresce quando as tarefas competem por recursos cognitivos similares. Em outras palavras: toda interrupção cobra pedágio cognitivo. Em gestão escolar, isso se agrava por agendas fragmentadas (aulas, conselhos, atendimentos, plataformas). 2. COMO A ANSIEDADE E O BURNOUT SURGEM DO DESCONTROLE DO TEMPO A OMS classifica o Burnout como fenômeno ocupacional decorrente de estresse crônico não gerenciado, com exaustão, distanciamento mental do trabalho e queda de eficácia profissional, um quadro frequente em educação sob alta carga e pouco controle sobre o tempo. Ambientes com alta interrupção e prazos comprimidos elevam estresse e pioram sono e humor. Para líderes, a lógica é estratégica: controle de agenda = controle de risco . Equipes com rituais de foco, pausas e fronteiras digitais apresentam menor estresse e melhor satisfação, condição necessária para resultados pedagógicos sustentáveis e retenção de talentos docentes. 3. IMPACTO DA GESTÃO DO TEMPO NA SAÚDE MENTAL 3.1. Estresse crônico: causas e sintomas Estresse crônico nasce quando demandas superam recursos (tempo, autonomia, suporte) e quando o trabalho é conduzido sob interrupção contínua. Sinais típicos: irritabilidade, ruminação, insônia, lapsos de atenção. Estudos em “trabalho do conhecimento” mostram que interrupções elevam velocidade com mais estresse , mas degradam a qualidade do output e a consistência do foco. Em educação, “pressa sem foco” tende a gerar retrabalho, decisões reativas e desgaste cumulativo, uma espiral cara para a instituição e para as pessoas. Diagnosticar e remover fontes de interrupção é, portanto, medida de saúde organizacional. 3.2. Benefícios psicológicos do planejamento consciente Revisões de literatura indicam que comportamentos de gestão do tempo se associam a maior controle percebido , satisfação e menos estresse . Programas de treinamento em gestão do tempo elevam organização e autoeficácia e podem reduzir ansiedade, ainda que os efeitos em desempenho “duro” variem conforme o desenho do trabalho. Para escolas, o ganho prático é criar previsibilidade e “datas de decisão” que estabilizam o dia a dia. No nível individual, listas breves por prioridade, janelas sem reunião para tarefas cognitivas profundas e revisão semanal com trade-offs explícitos combinam ciência da atenção com realismo operacional. 3.3. Rotina estruturada e bem-estar em educação Entre professores, mindfulness e práticas de regulação atencional em programas dedicados (p. ex., CARE) reduziram estresse e Burnout em ensaios randomizados, com efeitos também em humor no trabalho, sono e clima socioemocional de sala. Tais intervenções funcionam melhor quando acopladas a mudanças de agenda (menos interrupção, mais foco). Há também ganhos fisiológicos quando se contém e-mails e picos de notificações: ao cortar e-mail por alguns dias ou reduzir sua frequência, colaboradores exibiram menores níveis de estresse (variabilidade da frequência cardíaca), além de relatar maior foco, dado com implicações diretas para a rotina escolar digital. 4. A FALÁCIA DA MULTITAREFA 4.1. Origem do mito A crença de que “fazer tudo ao mesmo tempo” é eficiente nasce de duas ilhas de verdade: (a) tarefas automáticas podem coexistir (andar e conversar), e (b) alternar rápido parece ser produtividade. A literatura cognitiva, porém, demonstra que atividades que exigem controle executivo competem entre si, e alternar custa. Em escolas, isso se manifesta em docentes tentando corrigir avaliações, responder mensagens e preparar aula simultaneamente, com piora mensurável de atenção. 4.2. O custo da troca constante de foco Clássicos da psicologia experimental mostram que task switching envolve etapas de “mudança de meta” e “ativação de regra”, cada qual com latências que somam atraso e erros; esse custo não some com prática. A “resíduo atencional” persiste após cada troca, reduzindo a plena presença na nova tarefa. Para o ensino, isso significa que janelas de foco indiviso para planejamento e correção são mais produtivas do que “picotar” o tempo. 4.3. Evidências sobre queda de desempenho e aumento de erros Multitarefadores pesados em mídia tendem a filtrar pior distrações e a ter menor controle executivo, embora réplicas mostrem resultados mistos, o que reforça que o contexto organizacional (interrupções, regras de agenda) é peça-chave. Na prática, reduzir pontos de distração melhora qualidade do trabalho cognitivo em qualquer cenário. 5. TÉCNICAS PRÁTICAS E FERRAMENTAS 5.1. Time blocking: reservando blocos de atenção Adote “horas protegidas” (90–120 min) para tarefas de alta complexidade (planejamento de aula, análise de dados pedagógicos), sem reuniões nem notificações. Crie um calendário de foco institucional (ex.: terças/qui, 9h–11h) e ajuste o fluxo de demandas para respeitar esses blocos. A literatura sustenta que minimizar interrupções preserva recursos cognitivos e reduz estresse. 5.2. Pomodoro adaptado à saúde mental Use ciclos de 25–50 min de foco + 5–10 min de pausa, com pausas ativas (respiração, alongamento breve) e uma pausa maior a cada 3–4 ciclos. O alvo não é “ritualizar a técnica”, e sim treinar variabilida e esforço e recuperação, o que mantém energia ao longo da jornada escolar. Evidências de intervenções com docentes sugerem que combinar foco e regulação atencional reduz estresse e melhora sono. 5.3. Higiene digital: mindfulness e bloqueio de distrações Para indivíduos, headspace (meditação guiada) apresentou redução de estresse em ensaios controlados; para equipes, políticas que limitam janelas de e-mail/WhatsApp e o uso de bloqueadores (p. ex., freedom) em janelas de foco aumentam atenção e reduzem pressão subjetiva. O ponto é padronizar regras simples e mensuráveis para todo o corpo escolar. 6. ESTUDOS DE CASO E EXEMPLOS REAIS 6.1. Rede pública (EUA): programa CARE para docentes Um ensaio cluster randomizado com 32 escolas públicas de educação básica avaliou o programa CARE (Cultivating Awareness and Resilience in Education). Resultados: redução de estresse e burnout, melhora de clima socioemocional e de indicadores de sono e humor em docentes que receberam a intervenção. Para redes de ensino, isso mostra que treinamento + rotina vence o improviso. 6.2. Trabalho sem e-mail contínuo: menos estresse fisiológico Estudos em ambientes reais reduziram ou cortaram e-mail por curtos períodos; a variabilidade da frequência cardíaca indicou menor estresse e os participantes relataram maior foco. Escolas podem traduzir isso em duas janelas diárias para e-mail e canais assíncronos de plantão, em vez de “atenção permanente”. 7. RECOMENDAÇÕES PARA LÍDERES E EQUIPES 7.1. Cultura de foco coletivo Defina janelas institucionais de foco sem reuniões (p. ex., 2 manhãs/semana) e compacte reuniões em slots curtos com pauta e decisão clara. Padronize “etiqueta digital” (prazos padrão, respostas não imediatas fora de urgências, batching de e-mails). Expectativas claras reduzem conflito e estresse. 7.2. Espaços de descompressão e recuperação Organize pausas ativas (5–10 min a cada 60–90 min) e crie espaços físicos/virtuais de recuperação breve. Evidências em docentes indicam que intervenções de regulação atencional e sono/recuperação melhoram humor e reduzem estresse. 7.3. Treinamentos e rodas de conversa Implemente trilhas anuais de gestão emocional do tempo (combinação de técnica + regulação atencional), inspiradas em modelos como CARE, com aferição de indicadores (estresse percebido, sono, absenteísmo, intenção de desligamento). Conectar treinamento a políticas de agenda garante perenidade e ROI. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A evidência é consistente: menos multitarefa, mais foco estruturado e higiene digital reduzem estresse e sustentam produtividade. Em educação, isso se traduz em docentes com energia, equipes administrativas mais assertivas e clima escolar mais estável. O passo seguinte é pilotar : escolha 2–3 medidas (ex.: janelas de foco, e-mail em batch, pausas ativas + módulo CARE-like), defina indicadores e rode ciclos de 8–12 semanas. Estabeleça uma semana-cobaia com reuniões compactadas e dois blocos institucionais de foco; meça estresse (escala curta), qualidade do sono e avanço de entregas. Compartilhe os resultados internamente e escale o que funcionar. A experiência prática combinada com essas boas evidências é o melhor antídoto contra o mito da multitarefa. 8. REFERÊNCIAS BARBOSA, Christian. A tríade do tempo: família, trabalho, vida. São Paulo: Buzz Editora, 2018. COSENZA, Ramon M. Neurociências e mindfulness: meditação, equilíbrio emocional e redução do estresse. Porto Alegre: Artmed, 2021. OLIVER, Burkeman. Quatro Mil Semanas: gestão do tempo para mortais. Rio de Janeiro: Objetiva NEWPORT, Cal. Trabalho focado - como ter sucesso em um mundo distraído: um modelo comprovado para organizar sua vida e aumentar sua produtividade e seu equilíbrio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. TONELLI, Guido. Tempo: o sonho de matar o Chronos. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.