A LIDERANÇA DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA À LUZ DA BNCC
1. Introdução
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017 para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental e em 2018 para o Ensino Médio, constitui-se em documento normativo que orienta os sistemas de ensino brasileiros quanto aos direitos e objetivos de aprendizagem essenciais para todos os estudantes. De acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE), a BNCC busca “assegurar a equidade e a qualidade da educação básica no país, respeitando a diversidade cultural e regional” (BRASIL, 2017, p. 8).
Neste contexto, a Coordenação Pedagógica exerce papel central como instância mediadora entre o prescrito e o realizado, articulando políticas educacionais, currículo, formação docente e acompanhamento pedagógico. Como aponta Libâneo (2018), o coordenador pedagógico é “responsável pela mediação entre as exigências do sistema de ensino e a prática pedagógica dos professores, garantindo coerência entre planejamento, execução e avaliação” (p. 122).
A liderança da coordenação pedagógica é fundamental para o bom andamento da instituição de ensino, da educação e da aprendizagem dos alunos, que é o objetivo principal e a razão de ser da escola.
2. A BNCC e a redefinição da prática pedagógica
A BNCC estabelece dez competências gerais que devem ser desenvolvidas ao longo da Educação Básica, integrando dimensões cognitivas, socioemocionais, éticas e culturais. Para Moran (2018), a BNCC demanda “uma prática pedagógica inovadora, centrada no desenvolvimento integral do estudante e na articulação entre saberes” (p. 57).
Assim, a coordenação pedagógica, como liderança-chave, se torna fundamental para traduzir a BNCC em práticas concretas, a partir do currículo, estimulando a apropriação crítica do documento por parte dos professores e evitando tanto o reducionismo tecnicista quanto a interpretação meramente burocrática. Como reforça Sacristán (2017), o currículo não é apenas um documento prescrito, mas, é “um projeto cultural em ação, mediado pelas práticas pedagógicas e pela interpretação dos docentes” (p. 34).
3. A liderança pedagógica e a coordenação escolar
A literatura sobre liderança educacional destaca que o coordenador pedagógico não deve ser apenas um supervisor, mas um líder formativo. Luck (2020), defende que as lideranças escolares “ao assumirem as responsabilidades de seu cargo, passam a ter como inerentes a ele a responsabilidade de liderar a formação de clima e da cultura escolar ...” (p. 27) para além dos conteúdos e das práticas pedagógicas.
No caso da BNCC, isso implica:
- Articulação curricular: orientar a elaboração de planos de ensino que contemplem as habilidades e competências previstas, garantindo a coerência com o Projeto Político-Pedagógico (PPP).
- Formação continuada: organizar processos formativos permanentes que promovam o estudo da BNCC, incentivando metodologias ativas e avaliação formativa.
- Acompanhamento pedagógico: desenvolver mecanismos de monitoramento e análise de evidências de aprendizagem, com base nos descritores da BNCC e nas metas do Plano Nacional de Educação (PNE).
- Gestão participativa: criar espaços coletivos de decisão, valorizando a escuta dos professores e a corresponsabilidade.
Essa liderança demanda não apenas competências técnicas, mas, também relacionais e éticas. Como enfatiza Libâneo (2018), “a formação continuada consiste em ações de formação dentro da jornada de trabalho e fora da jornada de trabalho (eventos, congressos etc). Ela se faz por meio de estudo, da reflexão, da discussão e da confrontação das experiências dos professores”, o que reforça o papel mediador do coordenador pedagógico.
4. Competências da BNCC como referência para a liderança
As competências gerais da BNCC, como pensamento científico, argumentação, empatia, cooperação e responsabilidade, devem também orientar a atuação da coordenação pedagógica. O coordenador, ao liderar professores e articular práticas, precisa ser exemplo da cultura de colaboração, inovação e ética que a BNCC propõe.
Paro (2018) destaca que a liderança pedagógica deve estar vinculada à capacidade de “construir dispositivos de regulação das aprendizagens, que permitam identificar dificuldades e ajustar intervenções” (p. 65). Ou seja, cabe à coordenação fomentar práticas de avaliação diagnóstica e formativa, em consonância com os princípios da BNCC.
5. Desafios e possibilidades
Entre os principais desafios da implementação da BNCC sob a liderança do coordenador pedagógico estão:
- Resistências docentes diante de mudanças curriculares
- Sobrecarga administrativa, que pode reduzir o tempo destinado ao acompanhamento pedagógico
- Diversidade de contextos escolares, que exige adaptações locais do currículo.
Contudo, tais desafios podem ser transformados em possibilidades por meio de uma liderança colaborativa. Libâneo (2018) afirma que “a participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomadas de decisões e no funcionamento da organização escolar” (p. 88).
Nesse sentido, a coordenação pedagógica deve ser vista como liderança estratégica: orienta, apoia e inspira professores, garantindo que a BNCC se torne efetivamente um instrumento de promoção da equidade e da qualidade educacional.
6. Considerações finais
Na perspectiva da BNCC, a coordenação pedagógica exerce uma liderança transformadora, pois, sua ação articula dimensões curriculares, formativas e avaliativas, garantindo que as competências gerais da BNCC sejam traduzidas em práticas pedagógicas inovadoras e significativas.
Ao promover formação continuada, acompanhamento reflexivo e gestão participativa, o coordenador pedagógico fortalece o projeto pedagógico e assegura que a BNCC cumpra sua função de orientar uma formação integral, crítica e cidadã.
Como conclui Libâneo (2018), o coordenador pedagógico, quando assume seu papel de liderança de forma consciente e participativa, se torna “um agente de transformação da cultura escolar, mediando políticas públicas, demandas docentes e necessidades dos estudantes” (p. 129).
7. Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/CNE, 2017.
LUCK, H. Gestão da Cultura e do Clima Organizacional. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2020.
MORAN, J. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. São Paulo: Papirus, 2018.
PARO, V. H.
Administração Escolar: introdução crítica.
17. ed. São Paulo: Cortez, 2018.


